27.9.08

Rock and Roll

As linhas que seguem me foram inspiradas ao ler um post de um blog que menosprezou de forma preconceituosa este grandioso movimento.


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Vamos começar.

Abro um parêntese para um pouco de história da música.

# Séc. XIII.

A música dos intelectuais (que na época correspondia ao clero) é basicamente o canto gregoriano, forma musical muito simples, que consistia de uma simples voz, ou no máximo duas, mas uma delas muito simplória.
Alheios aos intelectuais os trovadores começavam a adicionar mais uma voz ao canto gregoriano, criaram o moteto que foi a base para a exuberante polifonia renascentista de tempos adiante. Porém, em seu tempo, foram perseguidos embora a importância deles para a música (e até mesmo, deves saber melhor que eu, para o desenvolvimento das letras) é incalculável.
Ou seja: a música dos intelectuais precisou da música popular pra evoluir.

# Séc. XII.
A igreja por fim aceitara a beleza da polifonia já há algum tempo em suas músicas. A ousadia agora era outra. Começaram a usar danças vulgares e populares na música de concerto, isso foi considerado um absurdo nos salões nobres, os intelectuais repudiaram.
Mas o fato era que a contribuição rítmica para a música dessas danças é incalculável.
Ou seja: a música dos intelectuais precisou da música popular pra evoluir.


# fins do séc. XIX.
O movimento nacionalista fazia os compositores buscarem inspiração nos sons e danças mais populares e primitivos de suas terras, Liszt, Dvorák, Villa-Lobos (No Brasil), etc.
Ou seja: mais um movimento “erudito” que não seria nada sem a inspiração popular.

# Início do séc. XX.
Stravinsky escreve a genial “Sagração da Primavera”, o concerto inicial foi absurdamente polêmico; a platéia, composta por muitos intelectuais e críticos, vaiava de forma desenfreada a orquestra já nas primeiras melodias.
Por que? Porque essa obra é de audição muito difícil, é composta por politonalidades e polirritmia, este último, recursos que certamente Stravinsky foi buscar na cultura africana.
O papel de Stravinsky na música do séc. XX é absurdamente importante.
Ainda hoje poucos se aventuram a ouvir as dissonâncias que surgiram em obras como essa, mas, mesmo assim é mais um exemplo de inspiração popular na música que os intelectuais de hoje ouvem e que foi repudiada de início pelos mesmos.

Fecha parêntese.
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Finalmente a questão Rock and Roll.

Eu pergunto.

Será que o Rock de bandas como Pink Floyd não inspirou centenas de jovens compositores do fim do século ajudando dessa forma a formar o movimento elitista musical dessa época? (Ou seja, exatamente da forma que acontecera nos eventos citados acima).

A resposta é sim, obviamente sim.

E quanto ao rock pesado e extremista contemporâneo, de bandas como Krisiun (Banda gaúcha de Ijuí que ganhou o mundo), Sepultura (Banda mineira que o fez da mesma maneira), My Dying Bride (Britânica) e a própria Anlis do meu amigo Marcus (que faz um belo trabalho mesclando arranjos eletrônicos ao som de guturais e guitarras distorcidas, vale a pena conferir: www.myspace.com/gothicanlis ).
Será que essas bandas de rock que surgiram alheias à elite intelectual não andam influenciando milhares de jovens compositores modernos que construirão a música futura!? Será!? Será!? Será!?

Novamente;

A resposta é sim, definitivamente sim.


E por que tenho tanta certeza nessa afirmação?



Porque sou um destes.
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Ah! Abro parêntese para mais uma coisa que devo considerar quanto ao post que me inspirou.

O autor nele faz uma comparação colocando o Rock ao lado da música de Beethoven, Villa-Lobos entre outros compositores:
Cita que nunca o rock chegará ao nível artístico deles.

Mas isso já sabemos, está claro, claríssimo.

Porque é outro contexto, estamos no século vinte e um, não por acaso queres que a a nossa música seja como a de duzentos anos atrás, não é!?
Ela mudou muito, e não está melhor nem pior, pois essa definição inexiste no que eu entendo por arte. Fecha parêntese.

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Compreendo que 'digerir' os sons de bandas como essas que citei acima é, de certa forma, tão difícil quanto admirar a música de concerto vanguardista. Para ouvir essas coisas temos que em primeiro lugar deixar o preconceito de lado - coisa que a elite intelectual, como prova a história das artes, sempre foi lenta pra fazer -.

Faço outra pergunta, será que o gênio Ludwig van Beethoven, ouviria rock caso ouvesse nascido no século XX como nós?

Apostaria a alma que a resposta seria positiva.

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"O artista habita o território da ausência suprema de metas"
-Arnold Schoenberg.


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3 comentários:

FROILAM DE OLIVEIRA disse...

Alberto
Antes de "digladiar" contigo, preciso dizer que fui colega do Fred no então Colégio Polivalente. Jogávamos xadrez (ele era o melhor do nosso clubinho). Na biblioteca daquela escola, cujo patronímico é Frederico Ritter, tem um poema que escrevi em sua memória. Todos o admirávamos. Há pouco tempo, encontrei-me com mãe para que ela me passasse alguns dados sobre o Fred. Fora convidado a dar uma palestra no Lucas Araújo de Oliveira, para falar justamente do teu tio. Como vai essa bonita capital? Morei nove anos em Curitiba, de 1984 a 1993.
Quanto a minha postagem, talvez tu pegaste o trem andando. Mas nos limitemos ao presente. Tudo o que escrevo sobre o rock é "Esse gênero musical jamais representará a arte suprema, que fez conhecido Beethoven, Mozart, Villa-Lobos, Paco de Lucía, Astor Piazzolla..."
De acordo, seu Alberto?
Na tua postagem, concordas com essa colocação:
"Mas isso já sabemos, está claro, claríssimo".
São tuas palavras, ipsis litteris.
Se é verdadeiro, por que me julgas um preconceituoso?
Minha frase tampouco possibilita algum subentendido.
Preconceito maior é dizer que Beethoven ouviria rock se vivesse neste tempo. Nem chega a ser preconceito, mas uma piada.
Preconceito é fazer julgamento sobre o que eu não disse, que o rock é a pior música de todos os tempos, refletindo uma decadência da nossa civilização, principalmnete dos valores estéticos.
Abç

Al Reiffer disse...

E aí Alberto! Cara, parabéns pelo teu blog, que bom que fizeste um, agora temos que divulgarmos, vou linkar no meu. E este texto foi muito feliz, muito bem escrito e bastante esclarecedor sobre o rock. Sem dúvida, as pessoas têm preconceito com o rock em geral e suas inúmeras vertentes, pois não conhecem quase nada das melhores bandas, sua riqueza e complexidade musical, conhecem apenas o que divulga a grande mídia, e quase sempre são as bandas mais medíocres, comerciais. Certamente, o Froilam desconhece bandas como Therion e Elend (e eu poderia citar várias outras), pois se conhecesse mudaria completamente sua opinião. Assim como tais bandas usaram muitos elementos da música clássica, compositores contemporâneos se utilizaram de muitos elementos do rock, metal, da música eletrônica, como é o caso de Stockhausen. E Beethoven, com certeza ouviria rock, poderia não ser roqueiro, mas ouviria, até porque o metal deve muito a ele. Abraços!

Renan Barros de Barros disse...

E aí Alberto?
Quem te deixa o comentário sou eu, Renan xD!
O blog tá bem legal cara, bom ver que está usando teu tempo para algo útil e bonito. Particularmente vim nesse post de Rock'N'Roll porque sabe que eu adoro tal estilo.. mas não pude deixar(infelizmente) de ver o comentário desse energúmeno chamado froilam...
O esperto diz não ser preconceituoso.. e termina o comentário dizendo que rock é a PIOR música que existe (ele deve ouvir calypso). Dizer que o rock compromete valores estéticos? Por acaso não há beleza no rock? Este ignorante não deve saber o significado da palavra "estético"!
Pensa ser apenas um falso intelectual que se senta jogando uma partida de xadrez e tomando um bom vinho provavelmente como todos os outros depreciadores de estilos que não sejam clássicos. É, meu amigo Alberto.. tanto eu como tu sabemos do valor do Rock, sabemos que a música não se limita a apenas músicas serenas ou ´de melodias angelicais, sabemos que a música pode representar diferentes efeitos para diferentes pessoas, e também sabemos que deve-se possuir uma mente surrada para compreender o feeling por de trás de tal, seja no teclado de um belo piano ou nas cordas de uma radical guitarra.
Quanto a Ludwig, Nisso concordo com o froilam.. Ludwig jamais ouviria Rock, mas somente meu amigo e repito que SOMENTE não ouviria, por ser surdo! Caso contrário, ouviria, apreciaria e defenderia. Pois gênios e apenas GÊNIOS escutam a música com a alma e não somente com os ouvidos!
Um forte abraço e continue com este teu trabalho tão bacana cara.. lerei mais.. prometo.. este post ficou ótimo!