4.7.09

A MÚSICA É UM MILAGRE!




Caros leitores, leiam isso:

"...

NAS ARTES


Testemunhos se multiplicam sobre a grande inclinação natural dos índios para a música. O padre Noel Berthold afirmava que o Irmão Verger podia fasciná-los de tal modo quando tocava ao órgão que eles permaneciam imóveis, como que em êxtase, por até quatro horas. Muitos índios chegaram a se tornar instrumentistas exímios ou proficientes construtores de instrumentos, como Ignacio Paica e Gabriel Quiri, e o caso de um menino de doze anos que executava com perfeição sonatas e danças cortesãs de insignes mestres europeus. Diversos dentre os próprios Jesuítas eram músicos consumados, como os ditos padres Verger e Sepp, este o autor do primeiro órgão construído nas Américas, e o padre Juan Vaseo, que foi músico da corte espanhola.
Formaram ainda grandes orquestras e coros, que rivalizavam com grupos de formação européia e eram convidados para se apresentar em Buenos Aires por ocasião dos festejos de Inácio de Loyola. Na Missão de San Ignacio funcionou um dos primeiros conservatórios de música da América. ..."

O texto acima foi extraído de um artigo da Wikipédia sobre as reduções jesuíticas na américa latina, especialmente sobre os nossos "7 povos das missões" aqui no Rio Grande do Sul.




Ares de ciência.

Se começarmos a folhar um livro de acústica - e isto é elementarmente ciência: física pura - logo nas primeiras páginas teremos a explicação científica para o 'fenômeno da audição'. Tive eu a sorte de ter aulas fantásticas sobre isso com um grande professor na EMBAP em Curitiba: Carlos Alberto Assis, um cara singular, para que entendam isso basta dizer que ele é Médico e Músico e simplesmente excelente nas duas coisas. Então, só poderia ser professor de algo muito ímpar, bom, na verdade é uma disciplina quase sobrenatural de tão singular, sintam o nome da mesma: "Biologia aplicada à música". Bom, o fato é que foi no ano 2008; numa cidade muito estranha à mim; e num ambiente ainda mais misterioso: a sala 17A, no porão do prédio histórico da EMBAP; que eu tive, nestas aulas envolventes do professor Carlos, os primeiros contatos com algo que os livros do tipo citado no início chamam de "PSICOACÚSTICA". [Acho que o narrar desse parágrafo devia ser mais rigoroso cientificamente conforme eu enunciei... Essa minha veia fantástica não tem jeito! Tenho que parar de ler Reiffer, Poe e Borges um pouco].
Deixando um pouco o misticismo de lado [Juro que agora eu consigo!], PSICOACÚSTICA é o nome dado à ciência que estuda a maneira que o som chega à nossa compreensão cerebral. Tudo muito científico, muito rigoroso, acadêmico, mecânico... Algo que tentarei explicar, tal como esta ciência nos 'prova' nos parágrafos que seguem.

O som na natureza externa são basicamente ondas mecânicas: que utilizam matéria pra se propagar, nesse caso a matéria é o ar. Ocorre que as moléculas de oxigênio do mesmo se comprimem e se rarefazem formando por compressão e dilatação ondas perfeitas.
Mas seriam apensas esse punhado de linhas acima o fenômeno auditivo para nós humanos!?

Não, ainda não.


Não porque ainda falta o trecho mais fantástico do trajeto: que vai da nossa orelha até o cérebro (Ou seja, a falada PSICOACÚSTICA nua e crua). Nessa parte a onda formada no ar pelos movimentos moleculares já ditos, chega ao pavilhão das nossas orelhas (que tem função acústica: serve pra amplificar a onda) e logo então passa ao tímpano, uma membrana na 'porta' do ouvido que vibra como a pele de um tambor qualquer; nesse mesmo instante essa vibração é passada aos famosos 'três menores ossos do nosso corpo': 'martelo', 'bigorna' e 'estribo', estes que formam uma engrenagem incrivelmente precisa e minúscula, uma obra de engenharia genial, que por estar apoiada ao dito tímpano, recebe as vibrações do mesmo, então, como uma máquina biológica perfeita que é, passa estas vibrações em detalhes meticulosos à outro órgão: a Cóquea que apesar de no exemplo da imagem abaixo estar esticada para fins explicativos, ela é enrrolada e em forma de caracol com duas ou três voltas. Esse órgão, alojado em cavidades cranianas, é também recebedor das vibrações certeiras, que são transmitidas a um fuido estranho que preenche a cóclea. No meio da cóclea há uma divisória chamada "membrana Basilar", essa está impregnada de terminações nervosas ultrasensíveis, que de forma quase alquimista (Pára, Alberto!!!) transmutam os sinais das vibrações em impulsos nervosos e levam ao nosso cérebro.

A imagem esquemática abaixo, tomada emprestada da obra "Elementos de Acústica" do autor V. E. P. Lazarini:








Convite à reflexão pós-classe.

Agora, após a breve aula de física, acaso concordam que o fato de poder ouvir é uma das coisas mais fantásticas que ocorrem na natureza!? Não sei se sou eu que ando pouco mais louco que o normal, mas eu acho isso, mesmo da forma 'livro de física' em que escrevi, algo absurdamente emocionante!!!
A minha percepção é a de que essas coisas que nos são emocionantes mesmo quando envolvidas da frieza rigorosa da ciência acadêmica, são certamente coisas de eterna e real profundidade. Pra mim, o Ouvir é algo inconcebivelmente fantástico, um portal oculto de nossa natureza interior para a exterior. A nossa ciência traduz isso por 'sentido', além disso eu diria que é uma dádiva, um real poder perceptivo místico.
Um ouvido bem treinado é algo que nos faz compreender muito melhor as coisas, e - indo ainda mais em direção ao assunto do título deste post - muitos dos milagres da Natureza. Um tipo de conhecimento muito elevado que pode parecer inconcebível. Na realidade, para as pessoas que dão ao sentido da audição uma importância bem inferior aos outros sentidos, realmente é incompreensível e inalcançável a compreenção do que digo. E infelizmente estas são a grande maioria das pessoas.
E é por causa desse dito desprezo coletivo que noto que a humanidade concebe ao sentido da audição, que entrarei agora num assunto grave: a POLUIÇÃO SONORA, que é uma das mais sérias nas cidades. Não menos que a dos rios e ares.
Em entrevista, disse sobre isso o mestre Stockhausen:

"Se a poluição visual fosse elevada ao nível da poluição sonora, nós não aguentaríamos sair de casa. Estamos viciados em ver, e conseguimos - infelizmente- esquecer o sentido da audição, então barulho a mais, barulho a menos, não faz diferença: pois já nos acostumamos a ignorar o ouvir. Se fossemos expostos à uma poluição visual do tamanho da sonora, enlouqueceríamos."

Então essa surpreendente poluição descomunal se mede pelo tamanho desprezo que damos ao sentido da audição. Ignoramos subtamente o caos sonoro, nos acostumamos. Na verdade ocorre coisa pior: Ignoramos que ignoramos isso.

Conhecidentemente o compositor que citei no post anterior: Shafer, é um grande pesquisador sobre as 'paisagens sonoras' [Soundscape] (Termo que ele mesmo criou) das grandes cidades.

Digo aos leitores pra terem um pouco de calma, pois explicarei melhor essa minha idéia de que a 'música' e os sons em geral carregar um significado oculto e elevadamente imperceptível à grande maioria dos seres humanos desse planeta (que desprezam o sentido da audição em relação aos demais) será explicada melhor no desfechar desse texto.



Agora falarei de música.
O texto colado bem no início do texto pode parecer meio "Alienígena" em meio à todas as palavras acima, porém, acreditem ou não, foi ele que motivou-me a escrever esse longo post.
Já confecei minha devoção à coisa fantástica que é simplesmente o fato de poder ouvir. Agora quero ir além, e tentar falar um pouco sobre o mais indizível: a Arte Musical! Eis que o som concebido pelo ato da audição, volta aos ares vindo do interior dos seres humanos, os que tem o sentido aguçado, na forma de obras artísticas. Pensando que a arte imita a vida, [ou seria a arte, uma criação de uma vida real paralela não menos real que a nossa!? Bom, não viajemos tanto agora] , seria algo comparável à respiração de um ser vivo: absorvemos o ar e depois soltamos ele em forma diferente da que veio. Como compositor (ao menos aspirante), digo que fazer música é isso: absorvemos o conhecimento sonoro das natureza (Não apenas das ondas sonoras da mesma, mas também das coisas que não-sonoras como cores, perfumes e gestos) e devolvemos na misteriosa arte da música.
Pensem bem, se simplesmente ouvir já é fantástico, o que seria da música senão um >>>
Milagre!?
Que então seria um grupo de índios, que encantados pela música, em coral entoavam cantos belíssimos escritos pelos mestres europeus com a influência da música primitiva da própria cultura guarani senão o milagre dos milagres!?
Tudo isso dentro de lindíssimos templos erguidos pelos mesmos no meio dos nossos pampas desertos em plenos séculos XVII e XVIII.
O efeito que a música tem sobre o ser humano é mistério profundo, porque muita gente chora desenfreadamente ao ouvir por acaso uma música!?
Voltando agora ao desfecho explicativo prometido acima, vou explicar o porque de eu ter que a música carrega um tipo de conhecimento estranho à maioia de nós, humanos.
Parece bizarro, mas afirmo que pelo mesmo fator que ignoramos falar da morte, ignoramos a audição ante os outros sentidos. Isso porque na verdade o elemento principal da música e dos sons não são as próprias ondas sonoras, mas sim uma coisa cujo o não cocebimento é o motivo pra tanta discórdia, ganância, guerra e horrores em geral nesse mundo, uma das coisas que nos será eternamente misteriosa, sobre o qual a minha arte é diretamente talhada, ou seja:
O T E M P O.
Devemos aprender a respeitar o tempo, ele é o dono de nossas vidas:

Devemos aprender a morrer.

Isso pode parecer terrível para a maioria, mas, é a maior lição que eu tirei do contato com a arte musical, compreendi isso profundamente ouvindo e pensando em música. E a Música é um milagre.

2 comentários:

Giulianna Santos disse...

Absolutamente genial.
Obviamente, um tanto maluco também.
Aceitarei o convite a reflexão, principalmente no que diz respeito ao meu ouvido.
Ah propósito, simplesmente amei sua foto do perfil. hahaha
saudades
um beijo
Giu
http://badmoviescene.wordpress.com/

Monique S disse...

Não existe coisa mais bela do que ouvir uma música e sentí-la. Vejo nas tuas palavras tamanho amor que sente por ela... Parabéns Alberto! Tua postagem considerada maluca foi muito aproveitada por mim. Beijão, Monique.