Mirar o rio, que é de tempo e água,
E recordar que o tempo é outro rio,
Saber que nos perdemos como o rio
E que passam os rostos como a água.
E sentir que a vigília é outro sonho
Que sonha não sonhar, sentir que a morte,
Que a nossa carne teme, é essa morte
De cada noite , que se chama sonho.
E ver no dia ou ver no ano um símbolo
Desses dias do homem, de seus anos,
E converter o ultraje desses anos
Em uma música, um rumor e um símbolo.
E ver na morte o sonho, e ver no ocaso
Um triste ouro, e assim é a poesia,
que é imortal e pobre. A poesia
Retorna como a aurora e o ocaso.
_ Jorge Luis Borges (Buenos Aires, 24 de agosto de 1899 - Genebra, 14 de Junho de 1986)
2 comentários:
Explosão de poesia, heim!
Grande Borges, o maior dos argentinos, sem dúvida. E complemento este fantástico poema com este verso do Fernando Pessoa: "Morrer é só não ser visto. Morrer é dobrar a esquina."
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