É fato que a música é uma das artes mais antigas da natureza. Ciências como a antropologia, a músicologia e a etnomusicologia tentam, sem sucesso, descortinar todos os véus que ocultam as respostas para os porquês da música ser tão encantadora para os humanos de todas as civilizações ao longo dos séculos. E digo que o fazem sem sucesso pelo fato de que a música ser indizível pela natureza do seu material, que de forma alguma são os sons, como pensam os ignorantes, mas sim algo que faz a humanidade enlouquecer há muito tempo.
Na África, na aurora de nossa civilização, a música já estava presente num sentido ritualístico: ostribais cantavam e dançavam percutindo o próprio corpo ou tambores primitivos repetindo ritmos incessantemente até entrarem em transe. Pra quem acha que em nossa época isto seria um absurdo, basta compara-los com nossas festas rave e ver que os tempos se repetem. Na antiga Grécia a música era uma das mais importantes faculdades que deviam ter os cidadãos e era tratada de forma rigorosa e racionada pois determinados tipos de música tornariam a população desequilibrada ou a colocaria contra o regime, ou seja: a música com um sentido político. No ocidente assombrado pelo feudalismo a música foi uma das mais simples da história: tinha apenas o dever de carregar as palavras sagradas nos cantos dos cristãos primitivos. Só depois da renascença que a música, na nossa cultura ocidental, vem a tomar esse sentido conhecido por nós hoje de "arte pela arte", sem precisar carregar alguma função qualquer como as descritas acima.
Portanto basta olharmos para trás para vermos o impacto que a música causou e torna a causar sempre. E como disse, isso certamente não foi ocasionado por uma ingênua e singela "arte dos sons", mas sim por uma imponente e arrebatadora arte do tempo: o senhor absoluto de nossas vidas. O ser humano teme a morte, o ser humano teme o tempo, sequer o compreende.
Observando o tempo concluo que é inútil apreciar a música por estilos, assim como é inútil compreender o tempo dividindo-o em segundos, horas, dias, etc... Isso nos ensinou o recentemente falecido antropólogo Levi Strauss: O ser humano tem o dom de segmentar tudo para tentar compreender as coisas, desta forma nunca compreenderemos a força holística do todo, e pensando no todo concluo: a música é uma só.
Alberto Ritter Tusi, São Leopoldo, 28/10/09
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Este texto foi escrito por mim neste sábado pela manhã, para o vestibular que fiz na Unisinos, que provavelmente será minha nova universidade no ano que vem: pretendo fazer algumas cadeiras de Arquitetura lá. Sem deixar, é claro, com todas as forças o meu caro instituto de artes aqui na UFRGS.
Não creio no acaso do tema da redação ter sido música.
Mas o fato é que me encantei pelo lugar, aqueles bosques, os ares solenes... Bom, a verdade é que provavelmente seja por terem ambos meus caros e admiráveis pais se formado neste lugar. Isso sim me faz ver a profundidade da vida que escorre de geração pra geração.
Isso já me faz sentir-me mais seguro nesta vida, desde que me fiz gente quero me encontrar, nesses últimos anos tenho lutado dia e noite para achar sentidos pra viver com muita intensidade, os livros eu já vi que não podem me ajudar, estou partindo pra outras.
Pois vejam o que uma cara amiga me disse por estes dias:
"Alberto, quando tu encontrares o que tu procuras incessantemente, eu quero ser a primeira a saber o que é".
Talvez o sentido seja a própria busca, se for isso, nisso eu ando bem.
Listen/purchase: Solos 1 and 2 by Ashlee Mack
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Um comentário:
Caro,
Você entende a música como se livrando de uma luta maniqueista de quem quer reduzir-la a pontos no pentagrama ou qualquer outro objeto explicativo, formal. Acho que sua postagem carece de um maior contato ou vivência antropológica da música ou de uma etnomusicologia vivencial. A compartimentação do saber, o conhecimento com fins de virar ação é um positivismo do qual a música (e o resto das áreas do saber) enfrenta sem dúvida nenhuma. Mas nem assim podemos generalizar e dizer que todo é reducionismo técnico-científico. Meu amigo, muito, mas muito pelo contrário, as barreras que separam a musicología, a etnomusicologia e a antropologia estão ficando cada vez más ténues devido a que as teorias esteticistas não conseguem mais dar conta nestes tempos pós modernos... o caminho (se tudo continuar assim, é claro) é cada vez mais ressaltar as alteridades que compõem as trocas interculturais, as apropriações, enxergando em dois sentidos: de dentro para fora e de fora para dentro. Sem categorizar nem idealizar, a etnomusicologia, por exemplo, trouxe um plano desestimado muitas vezes na análise antropológica: a linguagem sonora. Eu acredito que todo tem um significado, e a música como parte de uma manifestação humana "quer" dizer sua porção de significado no todo que a contextualiza.
Abraços.
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