Remembering Mississippi Mass Choir's singer, Mama Mosie Burks, who died at
92
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Former lead vocalist of the Mississippi Mass Choir, Mosie Burks, passed
away recently. We have a remembrance of the gospel singer.
13.1.10
Apreciação da poesia de Therezinha Tusi - A. L. Miditieri
_Contracapa livro "Afinidades", com trecho do prefacio escrito pelo grande Caio Fernando Abreu.
Depois de Caio Fernando Abreu, todos que escreveram sobre a poesia de Therezinha Tusi, por saberem ser impossível igualar-se a Caio, quando tentaram fazê-lo, jamais deixaram de citar, antes de tudo, o inspirado prefácio feito pelo fenômeno. Assim o fez Márcio Brasil, utilizando um de seus heteronômios e o professor Meditieri da PUCRS (que é excelente Poeta, antes de ser professor), o qual transcrevo aqui para vocês.
Therezinha Tusi, amiga do literário
___________________________ Prof. Dr. André Luis Miditieri
Sou afim da poesia de Therezinha Lucas Tusi. Poderia declarar-me suspeito nessas páginas introdutórias. Assim fizera Caio Fernando Abreu em 1981, ao prefaciar Afinidades, o primeiro livro da quase conterrânea, pois aquerenciada na cidade gaúcha de Santiago.
A professora do escritor, entretanto, nasceu em nossa mesma Alegrete. Dela, minha, do Mário Quintana, também um ser diaspórico, esse Baudelaire das ruas de porto-alegrenses.
Abelha-rainha, Therezinha funda o mel dos favos indisciplinados e a lã das ovelhas negras. Entre os zangões e mil zumbidos , funde algarismos, letras, numerais. Na voz mestra do minuano, fecunda o mofo e o fungo, os morangos e os girassóis.
A maestra espera o recreio sem crianças para compor seu próprio triângulo das bermudas, da música ao longe, de amáveis amores. Calcula o metro inexato das azaléias, enquanto uma orquestra muda vem acentuar o rítmo irregular do pólen ou até mesmo dos três voos de uma só e sonora libélula.
No canto desta cigarra, ouvem-se as algazarras dumas longíquas gangorras. Sua poesia desenha no horizonte anil o efêmero algodão das núvens. Para que a meninada não deixe de imaginar os mais variados animais, quer da vida, quer do sonho.
Escafandrista silenciosa, mergulha sem medo nas dissonâncias do mar, nos segredos de chuva e tormenta. Sob as pupilas azuis da tarde ou sobre os límpidos dias de domingo, vai domando a migração das andorinhas. E o eterno quero-quero de sentinela.
Seus versos evocam as labaredas crepitantes, o vivo chamegar das febris lareiras, toda uma arquitetura de brasa e sombra. pouco antes de o sol apagar seus refletores, brisas, rubores:
Desnuda assim minha alma pede trégua!
mas não quer um abraço só de braços
Quer descalçar as botas sete-léguas
que estão me conduzindo a largos passos...
Therezinha Tusi entende também da questão social. Se o tempo com dor equivale à operação condor, a censura nem escolhe sua rima em ditadura. No chumbo dos anos, adjetivos explicitados, palavras que são algemas, que são grilhões: mãos ao alto; verso em punho; à mão armada; ônibus cheio.
Ela insiste em cantar à vida quando nem sempre há festa e todavia fazem guerras. Intensa, embora pareça frágil, perturba a insensibilidade das estátuas que o bronze coroou. A poetisa nunca foi nem será bestseller; não é uma violeta de janela.
Seria dos tempos do Era uma Vez, destas poucas flores singelas que crescem onde menos se espera. Cogumelos de outono, a brotarem na pampa milenar, nos limiares da selva missioneira, no espaço imaginário dum Passo da Guanxuma, no centenário Boqueirão das coxilhas e dos arrozais.
Therezinha Lucas Tusi diz quem é e a que veio. Escritora da Campanha, mira sua metralhadora contra inimigos do literário. Adoecida d'O Mal de Montano, como o escritor catalão Enrique Vila-Matas, revela-se um antídoto contra a morte da literatura e as leis (cruéis) do mercado.
É que os inimigos da cultura ocupam nossa sala, nosso vídeo, nossas telas, nossos telefones. No caminho com Maiakovsky, como não dizemos nada, "já não escondem, pisam as flores, matam nosso cão". cavaleiros do apocalípse imiscuem-se como podem por cada fresta desta sociedade da desinformação. Tanta baboseira cuspida a cada dia por magos que fazem chover, ultramidiáticos gourmets e boticários do bem-viver.
No entanto, desde uma Fronteira Agreste , Therezinha aponta suas poéticas adagas ao duro cânone das histórias literárias, aos velhos centros de muito poder e cimento. A primeira, a segunda, a terceira, ou detentora duma ou outra posição, entre os amigos do literário, desfere seus golpes rimados, a soarem canções populares, ecoadas em cantigas de ninar.
Antes um pouco de assistirmos a nossos próprios funerais e de assinarmosna lápide fria um brevíssimo epitáfio à poesia, de Santiago, nos chegam afagos desta agridoce algaravia. Ressuscitemos as poetisas e os poetas!
A tempo ainda de, odisseus, podermos levantaruma epopéia de cera que resista à mais inovadora ladainha dos burocratas de plantão. O voraz apetite, inclusive, do mais frágil deles, "rouba-nos a luz e, conhecendo nosso medo", vai-nos usurpando as últimas horas-aula de literatura e os últimos lugares nas filas dos editores.
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Um comentário:
Esse texto ficou muito bom, e a Therezinha merece!
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