Meus caros, como artista, tenho sempre questionado o ato de criar. Estes dias, numa aula de composição, aguardando pelo professor Cunha, eu e o Sérgio (Baiano) ficamos a discutir coisas como "Até que ponto conseguimos ter domínio sobre a música que fazemos?", e chegamos até a indagar "Se não consigo nem ter domínio sobre o que penso". Então, com estas coisas na cabeça, hoje ao amanhecer, relendo uma edição de um dos livros de poemas que eu mais gosto, o "A Rosa Profunda" de Borges, encontrei novamente este fantástico prólogo que a seguir transcrevo um bom pedaço aqui para nós. E é algo muito esclarecedor, vindo de um dos meus criadores favoritos. Sem mais palavras minhas.
PRÓLOGO
A doutrina romântica da Musa que inspira o poeta foi o que professaram os clássicos, a doutrina clássica do poema como operação da inteligência foi enunciada por um romântico, Poe, por volta de 1946. O fato é paradoxal. O fato é paradoxal. Salvo alguns casos isolados de inspiração onírica - o sonho do pastor referido por Beda, o ilustre sonho de Coleridge -, é evidente que ambas as doutrinas tem sua porção de verdade, embora correspondam a diferentes etapas do processo. (Por Musa devemos entender o que os hebreus e Milton chamaram de Espírito e o que nossa triste mitologia chama de Subconsciente.) No que concerne, o processo é mais ou menos invariável. Começo por divisar uma forma, uma espécie de ilha remota, que depois será um relato ou um poema. Vejo o Fim e vejo o Princípio, não o que se encontra entre os dois. Isso gradualmente me é revelado quando os astros ou o acaso são propícios. Mais de uma vez tenho de voltar sobre meus passos pela zona de sombra. Tento intervir o menos possível na evolução da obra. Não quero que seja torcida por minhas opiniões, que são o que temos de mais frívolo. O conceito de arte engajada é uma ingenuidade, porque ninguém sabe exatamente o que executa. Um escritor, admitiu Kipling, pode conceber uma fábula, mas não penetrar na sua moral. Deve ser leal a sua imaginação, e não às meras circunstâncias efêmeras de uma suposta "realidade".
______________________________________Jorge Luis Borges, Buenos Aires, junho de 1975
Composer and pianist Jason Moran is latest departure from Kennedy Center
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Another departure from the Kennedy Center: Composer, pianist, educator and
bandleader Jason Moran announced on social media that he is no longer the
artist...
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