4.6.11

Sementes de Réquiem

________________________________________Alberto Ritter Tusi

"Um escritor pode conceber uma fábula,
mas jamais penetrar na sua moral" 
_R. Kipling




Com muito esforço domestiquei um campo deserto dentro de mim. Sim, ele estava oculto em emaranhados de pensamentos e preocupações mundanas triviais que vem me sufocando, infinito campo deserto e em ondas como os do interior de Santiago. Agarreio-o com a força do coração e do pensamento e sobrevoei-o. Era o lugar perfeito pra eu plantar as sementes de um Réquiem que encontrara dentro de uma algibeira no fundo de um sonho de uma noite de outono. Mas réquiems são músicas, não? Sim, mas eu vejo nelas algo muito em comum com meus seres vivos favoritos, as árvores, e tal como elas, podem ser plantadas. E, do contrário, uma música dessa nobreza não server para dar sombra, serve pra iluminar mais o ar. Réquiems só podem ser plantadas em lugares dignos como este campo etéreo que estou vendo em mim, jamais na terra em que deveras estamos, obviamente. E o meu campo não é um sonho, é um lugar, mas não um lugar-comum, e Réquiems não vingam em lugares físicos, só em lugares como os de dentro da gente, onde o que a gente planta na terra, nasce no céu.
Antes de atirar as sementes no meu campo, tive que dar a ele umas aulas de etiqueta para receber bem o espírito dessa santa música que vai vir, ensinei-o bem alguns bons truques bons da Terra em que deveras vivemos, tais como esfumaçar-se em luzes aquareladas na hora do pôr-do-sol e soltar perfumes alegres na primavera, e outras coisas bonitas e acolhedoras que já esquecemos de gostar. É preciso um boa paisagem para receber meu convidado Réquiem. Com a paisagem concebida, ante os rubores do pôr-do-sol na minha fronte, meditei um pouco ante a um pequeno espelho d'água que refletia as nuvens do céu e suas  mil colores  e me senti preparado pra jogar as sementes, e assim o fiz.
Isso foi há algumas semanas, já consigo ver alguns lampejos de suas formas se aproximando como uma nave pelos céus do pôr-do-sol que eu congelei sobre meu campo. E que ele venha como o frio, que venha pra despertar.







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2 comentários:

Angela Longo. disse...

Simplesmente adorei teu post, lindo.

CaFoFo on line@ disse...

Oi Alberto, saí do blogger, vim deixar meu novo endereco:

http://sou-da-cris.nets.at/


até daqui a pouco....