21.11.09

Alucinação




- Luiz de Miranda -


Hoje
componho adentro ao temporal
desperta minha pupila
pequena ilha de lágrima
desesperadamente pequena

Hoje
componho desde tanta gente
agoniada, sufocada, isolada
num tempo ainda presente
de gente que ainda construímos
a chuva do verão
com um pouco de poeira no canto da boca
éramos tantos à frente do vento irisado
éramos como um clarão de olhos dentro da noite

Hoje
escrevo e é amargo
minha cabeça é um comboio
de feras disparando
com explosivos
vivos
e minha sorte é um mastro de mar
que da morte ausento
aos tapas

Hoje
há muitos dias de distância
a vida é onde abraço
a íris de um tempo gris
apenas a poesia é minha lei
navegando tudo o que sei
o que nos olhos funde
o que de outro olho fica
como encanto

A lembrança aberta nos retratos
(mudo silêncio fotográfico)
acende algum teto subterrâneo
com uma lamparina
algum pátio se acende
com uma luz pequena

Hoje
há muitos dias de distância
sei que ficou a pulsação cardíaca
que são vozes, passos acelerados
movimentos debaixo da pele

4 comentários:

Al Reiffer disse...

Bah, o Luiz de Miranda é um baita poeta, esse trecho é demais: "e minha sorte é um mastro de mar
que da morte ausento
aos tapas"

Anônimo disse...

Il semble que vous soyez un expert dans ce domaine, vos remarques sont tres interessantes, merci.

- Daniel

Jaqueline disse...

Agradeço a postagem de minha foto diante de poesia tão bela. Um abraço
Jaqueline

Alberto Ritter Tusi disse...

Jaqueline, diga-me mais sobre isso, achei essa foto há muitos anos no google, gostaria de postar devidamente seus direitos autorais!! Abraço